“Estuda filho”, ecoava no meu pequeno quarto, todas as manhãs de teste em tempo de escola. Meio ensonado – outro tanto revoltado - lá fazia a vontade ao meu pai, para quem levantar cedo nunca foi um problema. E lia, memorizava, assimilava, calculava, raciocinava. Lá no fundo, restava uma ténue mas confiante esperança de um dia poder usufruir do falado “futuro melhor”.
Nunca fui muito exigente. Sempre me habituei a calcular cada centavo de despesa com rigor. Nunca foi abundante nem abastada a vida. Para mim pouco bastava… pouco basta.
E o tempo a passar e eu sem estudar.
Mas tinha de ser, resistir ao sono, ao quente da cama em manhã fria, ao virar para o outro lado e desfrutar de mais uns minutos de conforto… tudo em prol de um futuro que iria ser melhor, que eu queria melhor. Falhar não era permitido. Seria sempre de “Bom” para cima, mas mesmo assim, pelo sim pelo não, passava a vista pelos livros, pelos apontamentos sintetizados na semana anterior, pela memória de uma ou outra aula.
Uma hora passava num instante… não tarda eram 6h30 da manhã, hora de largar o estudo para apanhar o comboio das 7h00. Sempre gostei das viagens matinais de comboio. Éramos sempre os mesmos , as mesmas conversas… – e o Valério que apanhava sempre o comboio quase em andamento.
Dia teste, sempre foi para mim dia de nervos. Sendo do grupo dos “betinhos” em questão de notas, a exigência era significativa. Menos de “Bom” não era aceitável!
O tempo foi passando, sempre de “Bom” para cima. A faculdade – bem mais medíocre em termos de notas – deu-se num ápice e mais de 10 anos depois, impera a velha questão: valeu a pena?
A voz firme do meu pai já não ecoa no quarto por estes dias, mas qualquer coisa insiste em me acordar todas as manhãs, bem antes de se esgotar o meu sono, bem antes de me aliviar o cansaço , e em sobressalto parece que oiço “ Trabalha Filho se te esforçares, o teu futuro será melhor”…
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