No ciclismo, tal como na vida, subimos muitos vezes duras montanhas em “ sangue suor e lágrimas” para pudermos gozar de vistas únicas e de descidas estimulantes. Ou não! Eu gosto de subir pelo subir… gosto do sangue, do suor e das lágrimas.
Gosto de queimar ideias, problemas e angústias enquanto gemo de dor. Gosto de fitar mais um poste, uma árvore ou um sinal de trânsito e … “raios me partam se não chego lá” (Afinal eu sou o Joãozinho de Dois Portos) , quando a tiragem já vai longa, as mãos empurram os joelhos para baixo em esforço, em agonia, e o que é isso comparado com os problemas do dia a dia? E antes do próximo poste ainda queimo mais dois ou três empecilhos que me incomodam… trepa aí bandido, levanta o rabo do selim, ginga com ela, sente o suor que escorre, e pinga cara abaixo, sente o cheiro do frio que escancara os pulmões, sente as cãibras, os braços a tremer e o coração a bater forte...
E sobe-se, no ciclismo como na vida, ás vezes com a ajuda de amigos (obrigado João Barbosa pela última etapa de montanha em que me levaste ao colo) outras vezes a solo, serra acima. No ciclismo como na vida “ raios partam se não chego lá”, chego pois, afinal eu sou o Joãozinho de Dois Portos, com as pernas mais cansadas do que naquele tempo em que esta expressão era mote, mas com a mesma paixão, com o mesmo fel e empenho.
E quando se chegar lá acima, lambem-se as feridas, limpam-se o suor e as lágrimas desfruta-se um pouco da paisagem e desce-se depressa que há mais subidas para fazer.