sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Sangue suor e lágrimas

No ciclismo, tal como na vida, subimos muitos vezes duras montanhas em “ sangue suor e lágrimas” para pudermos gozar de vistas únicas e de descidas estimulantes. Ou não! Eu gosto de subir pelo subir… gosto do sangue, do suor e das lágrimas.

Gosto de queimar ideias, problemas e angústias enquanto gemo de dor. Gosto de fitar mais um poste, uma árvore ou um sinal de trânsito e … “raios me partam se não chego lá” (Afinal eu sou o Joãozinho de Dois Portos) , quando a tiragem já vai longa, as mãos empurram os joelhos para baixo em esforço, em agonia, e o que é isso comparado com os problemas do dia a dia? E antes do próximo poste ainda queimo mais dois ou três empecilhos que me incomodam… trepa aí bandido, levanta o rabo do selim, ginga com ela, sente o suor que escorre, e pinga cara abaixo, sente o cheiro do frio que escancara os pulmões, sente as cãibras, os braços a tremer e o coração a bater forte...

E sobe-se, no ciclismo como na vida, ás vezes com a ajuda de amigos (obrigado João Barbosa pela última etapa de montanha em que me levaste ao colo) outras vezes a solo, serra acima. No ciclismo como na vida “ raios partam se não chego lá”, chego pois, afinal eu sou o Joãozinho de Dois Portos, com as pernas mais cansadas do que naquele tempo em que esta expressão era mote, mas com a mesma paixão, com o mesmo fel e empenho.

E quando se chegar lá acima, lambem-se as feridas, limpam-se o suor e as lágrimas desfruta-se um pouco da paisagem e desce-se depressa que há mais subidas para fazer.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Finos como cabelos

Ao jeito de Saint-Éxupery, acordei hoje com a ideia clara de que Aqueles que cruzam os caminhos por onde passamos – ou nós os deles, deixam-nos os seus tiques, deixam-nos as suas expressões, os seus saberes, deixam-nos parte das suas lágrimas, estilhaços de vida enfim.

Habituei-me bem cedo a ouvir os velhos, a beber daqueles ensinamentos em tabernas de balcão encardido pelo tinto, frias como o dia de hoje, com copos virados ao contrário em lavatórios minúsculos de água negra disfarçada por pingos de lixívia.

Finos como os seus próprios cabelos esbranquiçados, conhecem a palmo os gestos, as atitudes, as palavras escondidas por detrás do que eu digo, do que faço e do que eu penso em fazer. Nunca me assustei com isso.. gosto dos olhares cúmplices de quem sabe o que penso e que afinal não será nada de grave porque mais que não seja será sempre genuíno. Dizia ontem a uma pessoa, “o importante é a nossa consciência, e se fizermos as coisas com sentimento, estamos bem com a nossa consciência”…

Convicto do que sinto, do que penso e do que faço, pranto-me hoje, como sempre, ao balcão encardido, vejo os copos no lavatório, olho os olhares que continuam cúmplices e aceito o que vier com garra, com determinação e atitude.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Hoje falta-me o cheiro do fogareiro e o barulho das caricas de minis…


Sempre gostei de festejar aniversários. Habituei-me desde muito cedo a reunir amigos na minha casa ou em S. Martinho do Porto, mais tarde em casa do meu pai ou na Associação da aldeia. Foi sempre um momento de reunião de amigos e família. Raras vezes fiz convites.. “Apareçam todos”. O Convite tá feito!. Com o tempo perde-se algum entusiasmo, alguma energia.

Mas em mim os pulos continuam os mesmos. Quem dera fechar a rua, prantar por ali dois grelhadores, encher o frigorifico de minis, o pátio de amigos e família e ficar ali até que o dia e a noite queiram. Talvez essa falta me faça este ano não ter vontade de comemorar o que quer que seja. Logo eu que sempre gostei tanto de aniversários. Será a idade? Não. Á idade não me resigno. Vá lá uma ou outra picada já mais difícil de subir, uma bola a que já não se chega com as pernas (só com o pensamento) e prega-se uma mocada no Baixinho, o convite para jogar nos Veteranos da aldeia. Prefiro entender isso como um momento de “baixa forma”. Á idade não me resigno. Mesmo sem cabelo. Mesmo que as ressacas, outrora de 2/3 horas, hoje durem 3 dias! Idade é peste que comigo não entra!

Mas hoje falta-me o cheiro do fogareiro e o barulho das caricas de minis. Ligam os amigos e mais vontade tenho de encher o pátio. Sempre fui gajo de grandes ajuntamentos. Por isso hoje custa-me tanto o aniversário. Por isso hoje não tenho vontade de comemorar o que quer que seja. A todos os que  gentilmente perdem minutos de vida a desejar-me parabéns, agradeço do fundo do coração. Á extraordinária, única e especial pessoa que me atura dia e noite e mesmo assim ainda me oferece presentes neste dia, não sei como agradecer e trago-a comigo num sítio especial.

Apesar de tudo, tenho sentimentos e são sempre agradáveis estas manifestações de apreço. Algumas fazem-nos passear pelas ruas da amnésia. Vasculham-nos outros tempos, outras guerras. E o molho das entremeadas a cair nas brasas. O dia no SPA, o capacete da bicicleta, eu o outro e a “equipa do Varzim”. O Joelito e o Sr. Ismael que ainda aqui passam para um brinde. O meu pai a sofrer de Bicicleta das Caldas a S. Martinho, As dunas em Salir, o amigo Dinis (que faz anos depois de amanhã) e ficou em minha casa neste dia no ano de mil novecentos e noventa e não sei quantos. A bolada mesmo no olho, os calções tirados no mar e mandados para longe, o primeiro equipamento do Benfica.

Hoje é dia disto tudo. Afinal 32 anos são muitos anos. Mas hoje não é de todo o meu dia. Hoje é para mim o dia de todos quantos comigo deambularam e ajudaram a traçar as rugas da minha cara. Hoje é dia de todos os aqueles que me fizeram o homem que sou. Hoje é o dia daqueles grandes amigos com quem tive e tenho o privilégio de privar. É o dia de todos os familiares que me acompanharam até nas batalhas mais duras, mas essencialmente nos bons momentos, que dos maus não reza a história. É o dia dos meus avos que me criaram (Parabéns ao meu avô que também faz anos, obrigado à minha avó pela primeira educação, e um beijinho à minha avó que não está mais cá, mas partiu com a missão bem cumprida no que a mim diz respeito). Hoje é o dia dos colegas especiais que tive ao longo de uma vida, e bolas se tive colegas extraordinários. É o dia das pessoas geniais, que felizmente se foram cruzando no meu caminho e que fizeram o favor de perder algum tempo comigo.

Hoje é dia disto tudo. Pena o cheiro do fogareiro e o som das caricas.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

10 anos é muito tempo!


Os desafios? Aceitam-se! Os compromissos e a dignidade? Honram-se! Honram-se sim… e honra-se a prestação da casa e o pão que se tem de pôr em cima da mesa…

Graças a Deus e a todos os que tiveram a amabilidade de confiar no meu trabalho e o bom senso de me pagar por isso, sempre consegui comer uma côdea e beber um copo de vinho ao chegar a casa… e ainda consegui estragar uns trocos por aí e depositar outros em Bancos de referência como o “Sem Horas”, o “Ah poizé “o “Tunel “ou o “Living”… não que os juros fossem vantajosos, mas eram bancos honestos, nada como esta pouca vergonha que se vê por aí nos Bancos de rating elevado… ali era certinho. Um bom investimento e ia à lua, via estrelas em noites de trovoada e com um bocadinho de sorte ainda chegava a casa e andava de helicóptero… belos investimentos!

Hoje nada é mais assim... os desafios, os compromissos… as decisões cada vez mais difíceis. Sempre decidi com impulso, com intuição, com o coração – esse bandido – noites, dias, mas  pior , foram os segundos e os minutos de angústia, de ansiedade, chega, não chega, vai, não vai… claro que vai ,eu sou de impulsos, não, não devia ter ido! Bolas.. nada a fazer já foi… e hoje revisita-se o Tejo e a Lisboa. Nem devia ter ido. Não devia ter pedido para passear em Lisboa. Afinal são mais de 10 anos, 10 anos é muito tempo para se sair assim… as visitas são boas, claro que sim, mas não é o mesmo. Não há o trânsito, nem os semáforos, a correria no metro e falta o fado. O fado só e fado em Lisboa! Os bairros, esses bairros de medo, de mística, de história. A pertença, essa mesma que só faz sentido à noite de fronte da torre do sino ( ou perto disso) de dia tem de ser à beira rio. Talvez até debaixo da ponte. Sempre me contentei com pouco - O meu carro é o pior do parque automóvel da empresa, a minha bicicleta é a pior do “pelotão” onde ando e a minha roupa é dos saldos ou da feira… -  mas os sonhos, nos sonhos tenho dificuldade em me contentar… sou eu e o Pessoa “ tenho em mim todos os sonhos do mundo”. E na paz de espírito, na tranquilidade…aí  sou uma besta que demora a contentar se.

Mas os desafios, esses aceitam-se. Aceitam-se porque os compromissos honram-se!

quarta-feira, 20 de junho de 2012

ainda oiço o toque da campainha...

Chegada esta altura é mais que certo que me acontece isto…

Lembro-me hoje com alguma nostalgia dos tempos de escola secundária. Era por estes dias que tudo se decidia e, embora comigo nada de extraordinário pudesse acontecer, as Provas Globais ou os Exames eram testes em que convinha manter a nota por causa da média.

Oiço as notícias e parece-me que ainda sinto o cheiro da escola nesses dias, a ansiedade, os nervos, as leituras de última hora, as “cábulas de estudo”. O toque da campainha que nesses dias era desfasado dos horários das provas… o Miguel que, na biblioteca ia gritando à moda do cuco “ faltam 30 minutos, hora de afinar as cábulas” o Dino que insistia em levar dicionário para a prova de Métodos Quantitativos e Máquina de Calcular para a prova de Português!

Por estes dias invade-me sempre uma estranha sensação de desconforto, de desorientação, de ansiedade… como se estivesse a viver esse tempo. Não só das provas mas de tudo o resto.

A seguir começavam os treinos de futsal para o Torneio da Câmara. Nunca fui grande espingarda no futebol 11, mas no futsal escapava. Aí dava o meu contributo e tanto que joguei para o amigo Dinis marcar um golo. Ele acabou por não marcar golo e eu, apesar de estarmos a ganhar o jogo e já ter marcado dois, vivi aquilo como uma derrota e ainda tentei dar “ um abrunho” num defesa que lhe fez falta quando ele estava isolado.

Era o início das férias, as separações dos colegas, as juras de amizade eterna, os namoros que ficavam em banho-maria. Era a praia de S. Martinho do Porto, a Piscina do Sta. Eulália, o acampamento do grupo de jovens em Monfortinho e a festa de Setembro em Dois Portos. Chica que é muita emoção!

E toda essa emoção, ainda a vivo. Vivo-a agora, vivo-a hoje, e ainda oiço o toque da campainha, o Miguel e o Dino, ainda oiço o Mister a ralhar e o suor a escorrer-me cara abaixo.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Quanto valem os sonhos?

Acordei mal disposto, e sempre que acordo mal disposto dá-me vontade de agarrar numa caçadeira e acabar com alguns vermes que parasitam a nossa sociedade e que certamente a fazem mais podre, mais suja e menos interessante.

Acompanho com algum empenho a evolução política dos nossos tempos, não só na Europa mas um pouco por todo o Mundo e - especialmente em alguns Países Árabes… mas que se lixe o mundo, Porque eu Vivo em Portugal, um País cada vez mais miserável, com demasiada gente ordinária, sem escrúpulos, com uma abominável falta de chá, de educação e embrenhados em demasiada lata..

Habituei-me nos últimos anos – fruto da profissão – a lidar com expectativas, com emoções, com sentimentos, com frustrações e angústias, com sonhos… sim com sonhos, eu que nem ligo muito a isso dos sonhos, mas e quanto valem hoje os sonhos? Como se mede a alegria e a felicidade? Há tempos perguntei, “quanto vale a vida humana? ”

Vale pouco, a vida, valem pouco os sonhos a alegria e idem as expectativas, as frustrações e as angústias! Importante é subir o PIB, e descer a dívida num rácio direto e perfeito. O resto que se lixe.

 E de lá, dos gabinetes tornados em pedestais, desses que tais pobres de espírito não saem mesmo sob suspeitas de corrupção, de abuso de poder, de tráfico de influências, entre outros, legislam a “regra e esquadro” como dizia há dias um Presidente de Câmara, e entendem que hão de fechar urgências aqui, serviços de ortopedia ali, maternidades acolá, extinguir Juntas de Freguesia por aqui, ali e acolá, criar Mega Agrupamentos de Escolas, tudo isto sem entenderem que é de saúde, de educação de (ausência) de qualidade de vida, de dificuldades nos acessos a esses lugares que ficam aqui e acolá, (onde eles só se deslocam em campanha de Mercedes, BMW´s ou Audi com ar condicionado), que se está a tratar.

E enquanto estas bestas, que não têm outro nome, continuarem a estar à frente do País de certeza que os nossos sonhos, as nossas expectativas, a alegria e a felicidade serão sempre esquecidas, porque o importante é acalmar os mercados e agradar à banca!

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Para que na Segunda-Feira à sombra da Fonte, bem regados – certamente não de água – possamos murmurar que valeu a pena...

Cheira a Festa...
Adensam-se os contactos, a ansiedade, os desacordos, os acordos, o electricista que nunca existe a tempo, as licenças, o palco, o arraial e as bebidas - “a sangria não pode faltar” remata o Giggio e confirma o Barbosa!

Saltando de aldeia em aldeia – sempre mais perto de Dois Portos - apesar da proveniência urbana - habituei-me muito novo a um ambiente rural bairrista que se entranhou como se de um vírus se tratasse.  A festa de Nossa Sra. dos Anjos em Dois Portos, sempre foi o ponto alto das minhas férias e da mística bairrista, não só porque marcava os últimos dias antes do começo das aulas como por qualquer outra coisa que ainda hoje não consigo explicar!

Talvez porque a festa de Dois Portos é sempre mais do que o bombardear de som dos conjuntos nos bailes, o lançamento dos Foguetes( agora balonas)

“ Para mim não comprava fogo nenhum”

– Este ano ou gastas 600,00€ em fogo ou não ajudo em nada” apressa-se a calcar na conversa o Estolas –

Ou a Procissão com a Banda de Música a palmear meia dúzia de ruas da Aldeia.

Talvez porque é o juntar da malta, as conversas, “ Eu não fazia Festa Nenhuma” – mia o Edgar todos os anos - e os intervalos no Alex! São as discussões - às vezes acesas e os abraços! São os nervos em franja, a vontade desmedida, as lutas, a força de uns, engenho de outros e o bom senso de alguns. E tudo isto misturado num caldo deveras difícil de cozinhar para que na Segunda-Feira à sombra da Fonte, bem regados – certamente não de água – possamos murmurar que valeu a pena e que para o ano estamos lá todos outra vez.