Sempre gostei de festejar aniversários. Habituei-me desde muito cedo a reunir amigos na minha casa ou em S. Martinho do Porto, mais tarde em casa do meu pai ou na Associação da aldeia. Foi sempre um momento de reunião de amigos e família. Raras vezes fiz convites.. “Apareçam todos”. O Convite tá feito!. Com o tempo perde-se algum entusiasmo, alguma energia.
Mas em mim os pulos continuam os mesmos. Quem dera fechar a rua, prantar por ali dois grelhadores, encher o frigorifico de minis, o pátio de amigos e família e ficar ali até que o dia e a noite queiram. Talvez essa falta me faça este ano não ter vontade de comemorar o que quer que seja. Logo eu que sempre gostei tanto de aniversários. Será a idade? Não. Á idade não me resigno. Vá lá uma ou outra picada já mais difícil de subir, uma bola a que já não se chega com as pernas (só com o pensamento) e prega-se uma mocada no Baixinho, o convite para jogar nos Veteranos da aldeia. Prefiro entender isso como um momento de “baixa forma”. Á idade não me resigno. Mesmo sem cabelo. Mesmo que as ressacas, outrora de 2/3 horas, hoje durem 3 dias! Idade é peste que comigo não entra!
Mas hoje falta-me o cheiro do fogareiro e o barulho das caricas de minis. Ligam os amigos e mais vontade tenho de encher o pátio. Sempre fui gajo de grandes ajuntamentos. Por isso hoje custa-me tanto o aniversário. Por isso hoje não tenho vontade de comemorar o que quer que seja. A todos os que gentilmente perdem minutos de vida a desejar-me parabéns, agradeço do fundo do coração. Á extraordinária, única e especial pessoa que me atura dia e noite e mesmo assim ainda me oferece presentes neste dia, não sei como agradecer e trago-a comigo num sítio especial.
Apesar de tudo, tenho sentimentos e são sempre agradáveis estas manifestações de apreço. Algumas fazem-nos passear pelas ruas da amnésia. Vasculham-nos outros tempos, outras guerras. E o molho das entremeadas a cair nas brasas. O dia no SPA, o capacete da bicicleta, eu o outro e a “equipa do Varzim”. O Joelito e o Sr. Ismael que ainda aqui passam para um brinde. O meu pai a sofrer de Bicicleta das Caldas a S. Martinho, As dunas em Salir, o amigo Dinis (que faz anos depois de amanhã) e ficou em minha casa neste dia no ano de mil novecentos e noventa e não sei quantos. A bolada mesmo no olho, os calções tirados no mar e mandados para longe, o primeiro equipamento do Benfica.
Hoje é dia disto tudo. Afinal 32 anos são muitos anos. Mas hoje não é de todo o meu dia. Hoje é para mim o dia de todos quantos comigo deambularam e ajudaram a traçar as rugas da minha cara. Hoje é dia de todos os aqueles que me fizeram o homem que sou. Hoje é o dia daqueles grandes amigos com quem tive e tenho o privilégio de privar. É o dia de todos os familiares que me acompanharam até nas batalhas mais duras, mas essencialmente nos bons momentos, que dos maus não reza a história. É o dia dos meus avos que me criaram (Parabéns ao meu avô que também faz anos, obrigado à minha avó pela primeira educação, e um beijinho à minha avó que não está mais cá, mas partiu com a missão bem cumprida no que a mim diz respeito). Hoje é o dia dos colegas especiais que tive ao longo de uma vida, e bolas se tive colegas extraordinários. É o dia das pessoas geniais, que felizmente se foram cruzando no meu caminho e que fizeram o favor de perder algum tempo comigo.
Hoje é dia disto tudo. Pena o cheiro do fogareiro e o som das caricas.